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Caleidoscópio

L u c i a n a A r a ú j o

Caleidoscópio

Desfecho Romances

EDITORA MULTIFOCO

Rio de Janeiro, 2015

EDITORA MULTIFOCO

Simmer & Amorim Edição e Comunicação Ltda.

Av. Mem de Sá, 126, Lapa

Rio de Janeiro - RJ

CEP 20230-152

REVISÃO
Mara Regina Domotor

CAPA & DIAGRAMAÇÃO
Leonardo G. Filho

Caleidoscópio

Araújo, Luciana

1ª Edição

Janeiro de 2015

ISBN: 978-85-8473-226-5

Todos os direitos reservados.

É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização do autor e da Editora Multifoco.

Agradecimentos:

Este livro não seria possível se não fosse a atenção, o amor e a fé de algumas pessoas. Por isso gostaria de agradecê-las.

Minha mãe, Gorete; meu pai, Lucivaldo e meu irmão Lucas, por me amarem além da conta. Natália Peixoto, por ser a melhor amiga que eu poderia ter. Te amo magrela.

Danielly Wendy, Hallyson Jhonson, Anderson Alves, Arnon Vieira, Joilma Lopes e Raysa Simonele, que junto com a Na-tália, são meus BFFs, meus maiores tesouros.

Henrique Marques e Juliano Cesar, dois dos meus maiores incentivadores, duas das pessoas que mais acreditam nas minhas palavras, meus amores.

Débora Nakaza, Beatriz Barbosa, André Arruda, Mara Regina, Lucas Rodrigues, Raíssa Andrade, Amanda Botelho, Felipe Trevisan, Lisandra São Bernardo, Samantha Coelho e todos os amigos da HPBF, por terem sido minha maior fonte de inspiração.

Ana Gracia, Jessica Souza, Carolina Oliveira, Isabela Goldenberg, Marianne de Lazari, Cauan Cechinel, e todos do DFTBA, por serem os amigos mais
awesome
que uma garota pode ter.

Sara França, Gabriele Alves, Tony Bruno, Ari Schwind, Rachel Reblin, Gabriel Leite, Marcos Marolato, Thaís Cam-pos, Igor Tostes e os amigos da HPB, por estarem comigo depois de todo esse tempo.

E finalmente, a Ana Kawahisa, Jessica Machado, Gabriel Herdeiro, por serem minha luz, minha eterna fonte de risa-das e reflexões e a Ana por ser a melhor revisora de ultima hora que alguém poderia querer.

Este livro é dedicado à Lívia Garcia e Laís Ribeiro, por me
acompanharem do inicio ao fim.

Somewhere over the rainbow

Way up high

And the dreams that you dream of

Once in a lullaby

Somewhere over the rainbow

Blue birds fly

And the dreams that you dream of

Dreams really do come true

Someday I’ll wish upon a star

Wake up where the clouds are far behind me

Where trouble melts like lemon drops

High above the chimney top thats where you’ll find me Oh, somewhere over the rainbow blue birds fly

And the dreams that you dare to, oh, why, oh, why can’t I?

(Over the rainbown - Harold Arlen e E.Y. Harburg)
L u c i a n a A r a ú j o

Capítulo Um

Ayra.

Theo.

Encontraram-se à meia-noite em uma cidade qualquer, uma rua ao acaso, onde havia um bar casual.

Ele, um poeta sem palavras.

Ela, uma bailarina sem palco.

Duas almas perdidas na noite cinza.

Houve uma troca de olhares e um sorriso torto. Um quei-xo levantado de forma arrogante, um aceno de cabeça, um arrumar de cabelos e, despercebidamente, uma rendição.

Naquela noite, Theo, o poeta desolado e sem esperan-

ças, pediu um drink atrás do outro. Quando Ayra chegou, ele estava no segundo, quarto, nono da noite? Quem sabe?

Ninguém estava contando, encontrava-se ali há tanto tempo quem nem mesmo ele se lembrava.

No instante em que Ayra entrou no bar foi como se o re-lógio tivesse parado, o casal perdeu-se em meio aos ponteiros que marcavam os minutos e os segundos. Poderia ter se passado uma hora, um dia, uma vida, o suficiente para que, em determinado momento, ambos julgassem serem oportunas 9

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suas partidas. Então, a descompensada bailarina observou o psicólogo de palavras pagar a conta. Estava cansada demais de viver, para questionar que ela deveria arcar com seu chá.

Caminharam a passos lentos até a rua onde pegaram um táxi.

Pelas janelas do automóvel, Theo observou os diversos tons de cinza que preenchiam a cidade, aquele tom desbotado que se escondia ao lado da luz vinda dos prédios; o cinza escuro que se perdia por entre as vielas vazias (ou não tão vazias); o cinza que cercava o ar da fina chuva que caia; aquele tom de cinza, que circundava a lua minguante.

Durante toda a viagem, um companheiro lhes foi fiel: aquele carinhoso silêncio que guarda em suas curvas o sabor das promessas não ditas. Nem palavras nem olhares foram trocados. O não-falar os levou até seu destino.

À porta do pequeno prédio em que Theo residia, o casal saltou para a chuva. Percorreram juntos o caminho es-corregadio até o pequeno apartamento. Permaneciam ainda sem toques, olhares, palavras. Theo e Ayra estavam além dos meios de comunicação conhecidos.

Ele abriu a porta e deu a passagem para ela adentrar em um mundo que era inteiramente deles.

Os casacos foram colocados no cabide, ao lado, o cache-col, o chão sob a bolsa. Os pés sobre o chão.

No canto esquerdo da parede direita, ali, escondida onde o sol não bate, estava sozinha e um tantinho triste, a velha máqui-na de escrever. Theo não a olhou, passou direto por ela. Caminhou com Ayra até o centro do único cômodo do lugar.

Mudos, ficaram frente a frente.

Apesar de o silêncio reinar na relação, o poeta e a bailarina travavam batalhas em seus diálogos quando estes aconte-ciam (é claro). Afinal, duas mentes bem estruturadas não poderiam se prender às conversas comuns, momentos comuns, 1 0

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pessoas comuns. Um tornava-se, por vezes, o desafio mortal do outro. O motivo da troça, da sede de conhecimento e, por que não, dos desejos da carne? Que, no final, era o que os levava um à casa do outro, em datas inespecíficas.

Mas ainda assim, eles travavam suas principais batalhas com os olhos.

Ora baixos, espreitando o outro. Ora arregalados, observa-dores. E, quando cansados das guerras de palavras e olhares, rendiam-se por vezes seguidas ao doce e amigável sossego. E

nesses momentos de total contemplação do ser que estava diante de si, Theo e Ayra se tornavam presas e seus corpos, predadores. Era a ocasião em que a mão suave do poeta encontrava a curva delicada do pescoço da bailarina, e, talvez com a intenção de marcá-la para sempre, lhe presenteava com invisíveis trilhas de mel.

Seus corpos não possuíam sentidos nem limites. E sufo-cados pela ansiedade de sentir o outro por inteiro, fizeram então o laço físico daquele já feito por palavras e promessas desde o primeiro momento. Eram os dois almas que não pertenciam ao mundo comum.

A linha fora traçada desde o para sempre até o era uma vez.

Presos em sua bolha de eternidade, Ayra e Theo perderam-se nas vias de suas existências.

Esqueceram do mundo, das palavras, e da música.

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poemas nunca lidos

Era feita de cacos e remendos.

E, ao mesmo tempo

(ainda que somente por fora),

Também de armaduras e blindagem.

Ela olhava o mundo e não se via nele.

Não como deveria.

Não como antes.

Aquilo que a vida lhe dera,

sua própria existência lhe tomara.

Porque amar era pedir demais,

amar era receber uma vida extra,

uma vida ao qual tão indigna ela era.

E mesmo assim, mesmo sabendo

que o simples fato de amar

não lhe seria incólume,

foi o que ela fez.

Então a vida lhe atingiu,

com força nunca vista e dando a ela

o poder de tudo realizar.

Ela tudo possuía,

e todo o poder ela tinha.

O agridoce sabor

da alegria violeta enchia-lhe o peito,

explodia em seus lábios

e se esbaldava em seus olhos.

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Entretanto,

para um ser tão docilmente quebrado,

a felicidade que o amor proporciona

possui uma dívida alta demais a ser paga.

E o amor,

que de bom grado lhe foi dado,

de forma igualmente violenta

lhe foi tirado.

Pois ela havia tomado

para si o que não lhe era de direito.

E então

ficou intrinsecamente feita em pedaços.

E por não ter sido feita para amar,

ou melhor,

não tendo sido o amor feito para ela

(por isso, mas não somente),

ele lhe foi brutalmente tirado.

E há quem lamente ainda hoje,

o triste fim da garota

que carregava nos lábios

a oração do amor, e no peito

o vago buraco de um coração

nunca remendado.

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C a l e i d o s c ó p i o

diário abandonado

Você sabe, ou deveria saber, que nunca gostei de delimi-tar datas, impor prazos. Creio que é como tentar aprisionar aquilo que não se pode tocar, findar o que é para ser eterni-zado. Ainda que esse sentimento seja irônico, pelo fato de minha vida ser marcada por um compasso de oito tempos.

Mas, no palco, é diferente. Lá, as areias da ampulheta caem à minha maneira. No palco, o tempo não me coloca limites. Mas minha vivência no palco está perto de acabar.

Não sei ao certo como tenho ciência disto, e nem ao menos sei lhe dizer o que estou sentindo. Só posso dizer que é tão irreal quanto palpável.

Construí toda a minha vida para terminá-la em meio aos tablados de linóleo.

Mas fracassei.

Fracassei na única jornada que julguei ser capaz de realizar. No entanto, em meu fracasso encontrei a paz.

Existe algo de libertador em saber que não precisarei mais esfolar meus dedos dentro de uma sapatilha, que não passarei noites em claro por causa da dor extrema em meus músculos.

Saber que não precisarei regurgitar a comida que engoli.

Poderei dormir.

Poderei usar sandálias abertas e comer qualquer coisa que quiser (desde que eu possa pagar).

Poderei viver.

Mas que vida terei, se minha existência se baseia em quem eu sou quando estou dançando?

Obrigada, destino, por fazer de minha liberdade, a minha prisão.

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cartas esquecidas

Estou aqui em uma tentativa de atender seus desejos, mas não quero lhe falar do que escrevi. Acho mais sensato, por hora, falar das coisas que vivi. Não que tenha algum mérito; não reali-zei grandes feitos, não me destaquei entre os demais.

Temo decepcioná-la, mas não sou lá grande coisa.

Tudo o que me pertence são meus breves e opacos pensamentos, minhas criações, minha mente. São apenas esses pequenos detalhes que eu posso lhe oferecer. São tudo o que eu posso lhe estender por agora.

Você me pediu para lhe escrever, e estou verdadeiramente tentando, agarrado à ideia que você plantou em minha mente, de que fica mais fácil com a prática. Certo? Espero que sim, pois olho ao redor, em busca dos cacos de minha vida que possam ser compartilhados nessas poucas linhas, e não encontro nada. O que torna este um trabalho complicado.

Também creio que minhas escolhas não sejam as melhores para me retratar, para fazer com que eu seja bem-vindo diante de seus olhos.

Embora, talvez, você já me enxergue desta maneira.

Quem sabe você tenha visto em mim algo que eu me recuso a ver. Porque você olhou em meu interior e notou o que ninguém jamais se dignou a observar e, confesso, nem eu mesmo fui capaz disso. Acredito que se eu tomasse conhecimento daquilo que sou, seria uma tortura. Diminuiria de forma ainda mais expressiva as palavras de que sou capaz de juntar em um poema ou dois. Mas você, Ayra, com seus longos cabelos cor de fogo e seus olhos cor do céu (ah, o clichê), soube, desde o início, a que classe de pessoas eu pertenço e ainda que tenha visto toda a sujeira que emana do meu espí-

rito, optou por me fazer companhia. Isso, por si só, é motivo para amá-la.

Mas será que a amo?

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